sábado, 20 de fevereiro de 2010

サンドラ

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Destruo, 
na demência de um alcance tremendo.
Destruo-me, apenas.
Menos o que por dentro
me existe.

Obra vergonhosa a minha
Vulgar diria
Sou vilã, puta fina
Antes ladra e concubina
Carapaça somente
de alma demente e perdida.

Amiga não
Sou traição e mentira
Sou morte sem vida
Sou mãe sem saber
Gerei mar gélido
maré vazia
Fui má, mais que rainha

Sou afinal poeira seca
Içada por força de um passo
Nem fui ontem nem agora
Fui maré negra que passa

Fui face cortada
face oculta
Fui a versão de culpa
Fui corpo somente
Fui vista, visitada
Ouvida de nada
que palavras fizeram colheita
da mentira calculada

Sou fantoche
Fui palhaça
Carapaça infundada
não sou mais que vaca de estrada
com rosto de mulher vaga.

Sou o que resta afinal
Restolho de desventura
Cinza clara, nova lua
Sou o veneno que cura
Cobra arisca, 
gargalhada
verme de albergue na estrada
ao som de qualquer vento que passe.

Sou mentira
Nada mais que isso
As palavras, esgotei-as de sentido, alucinada e à beira de um abismo que mal me cega, dou comigo em silencio repleto de uma loucura ainda mais estranha.
Ficam a meio pensamentos, fica talhada razão, como se um tambor ribombasse no meu peito, devorador de orquestras de palavras que me invadiram por dentro. A minha necessidade de escrever é como a amarra que seguro nas mãos. Tremem-me as mãos, treme-me a voz, a minha mente não me conhece, e eu conheço cada veneno que bebo, um atrás do outro, consciente, demente.
Foi tudo, eu acho que foi tudo, há 8 anos, eu estava sentada numa sala qualquer e tentava encontrar em mim, pontos cardeais de referencia, procurava a minha essência, que sabia que tinha, hoje, da minha boca sairam duas palavras apenas, pensadas, temidas, 
Acordei e quis voltar a dormir, pensei e pedi à minha mente que me deixasse estar. E estas palavras que escrevo, saem em silabas, e eu nunca pensei chegar aqui.
Se pintasse uma imagem agora, seria somente de um vulto vulgar, numa madrugada qualquer, num areal deserto de gente, juntando destroços sublimes e pertences poucos, seria um contorno ténue de tudo o que construi e destrui, seria um rasgo de dentro e uma desordem tremenda.
Não me julguei capaz de chegar aqui.



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Existes porque te sinto há muito, és a extensão que não me foi permitida mas que tem vida, cá dentro, é contigo que falo nas noites mais minhas, é a ti que embalo despida, é contigo que danço todos os dias e é o teu afago que sinto, que choro, que me dá força, de esperança, de um dia, um dia, nos vermos, nos tocarmos e eu dar-te tudo o que guardo, de ti, de mim, de nós duas.
Camila, é assim que te chamas, és loura, morena, de nariz empinado, olhos grandes, és linda, serás sempre, de mãos pequeninas como eu tenho, mãos sujas de tocar em tudo, e perguntas, sede de entender como eu tive no primeiro dia em que tudo era grande e pequeno e demasiadamente estranho.
Hoje, sentei-me num pedaço de serra, onde já te levei, chorei como não sabia ser ainda capaz, chorei por mim, pelos meus pecados, por uma dor que é demais, obra minha, por cada pedaço de mim, gemer agora. Demencia que construi numa encruzilhada louca entre sentido e razão.
Sabes, das minha mãos, já não me lembrava que saisse tanta destruição
Mas estou ferida por dentro, sinto-me suja e louca, sinto-me tão longe de mim, tão rouca, tão louca... Já não louca do riso, louca de uma dor que me sufoca, que me desfigura e reveste de vestes negras e porcas, de droga.
E num segundo gritei por dentro, ajuda, abracei-te com toda a força, com o amor que tenho cá dentro, pedi a quem fosse que me olhasse, ajuda, que não lembro, não me lembro nem do que sou nem do que me move, a minha mente ribomba do efeito de uma noite desperta, sem palavras que a descrevam, escura , de uma claridade que ofusca, de uma demencia desperta, de amar sem perdão.
Choro a destruição, choro as cinzas, choro tudo o que tenho e não conheço agora.
Escrever é deixar-me, nos delirios que a minha ordem me tira e nas certezas que o caos me oferenda.
Transporto-me para aqui, por fuga, por invasão, pela voz rouca que me corta e que eu não quero, nunca, nunca.
Faço-o por mim, por todas as coisas, porque em algum sitio depositei semente de vida.
Faço-o assim, meia louca.
Escrevo a minha historia, começo agora.
A história nega as coisas certas. Há períodos de ordem em que tudo é vil e períodos de desordem em que tudo é alto. As decadências são férteis em virilidade mental; as épocas de força em fraqueza do espírito. Tudo se mistura e se cruza, e não há verdade senão no supô-la.
Tantos nobres ideais caídos entre o estrume, tantas ânsias verdadeiras extraviadas entre o enxurro!
Para mim são iguais, deuses ou homens, na confusão prolixa do destino incerto. Desfilam-me, neste quarto andar incógnito, em sucessões de sonhos, e não são mais para mim do que foram para os que acreditaram neles. Manipansos dos negros de olhos incertos e espantados, deuses-bichos dos selvagens de sertões emaranhados, símbolos figurados de egípcios, claras divindades gregas, hirtos deuses romanos, Mitra senhor do Sol e da emoção, Jesus senhor da consequência e da caridade, critérios vários do mesmo Cristo, santos novos deuses das novas vilas, todos desfilam, todos, na marcha fúnebre (romaria ou enterro) do erro e da ilusão. Marcham todos, e atrás deles marcham, sombras vazias, os sonhos que, por serem sombras no chão, os piores sonhadores julgam que estão assentes sobre a terra — pobres conceitos sem alma nem figura, Liberdade, Humanidade, Felicidade, o Futuro Melhor, a Ciência Social, e arrastam-se na solidão da treva como folhas movidas um pouco para a frente por uma cauda de manto régio que houvesse sido roubado por mendigos.

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. 

sábado, 6 de fevereiro de 2010

1

Novinho...
Porque tenho uma ideia, porque me assaltam pensamentos coloridos e decadentes...
Porque trago comigo o peso e a leveza do meu caminho
Porque escrever é deixar-me na escrita que os meus dedos desenham.
Porque tenho um sonho
Por mais ainda